. : Desconstruindo Leco : .

desde janeiro de 2002 desconstruindo Piscinaum de Ramos construindo Desconstruindo Leco construindo pensamentos desconstruindo idéias construindo um blog desconstruindo o tempo

terça-feira, março 05, 2002
 
. : Desconstruindo Chico : .

Construção
Chico Buarque/1971

Amou daquela vez como se fosse
a última
Beijou sua mulher como se fosse
a última
E cada filho seu como se fosse
o único
E atravessou a rua com seu passo
tímido
Subiu a construção como se fosse
máquina
Ergueu no patamar quatro paredes
sólidas
Tijolo com tijolo num desenho
mágico
Seus olhos embotados de cimento e
lágrima
Sentou pra descansar como se fosse
sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse
um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse
um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse
música
E tropeçou no céu como se fosse
um bêbado
E flutuou no ar como se fosse
um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote
flácido
Agonizou no meio do passeio
público
Morreu na contramão atrapalhando
o tráfego

Amou daquela vez como se fosse
o último
Beijou sua mulher como se fosse
a única
E cada filho como se fosse
o pródigo
E atravessou a rua com seu passo
bêbado
Subiu a construção como se fosse
sólido
Ergueu no patamar quatro paredes
mágicas
Tijolo com tijolo num desenho
lógico
Seus olhos embotados de cimento e
tráfego
Sentou pra descansar como se fosse
um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse
o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse
máquina
Dançou e gargalhou como se fosse
o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse
música
E flutuou no ar como se fosse
sábado
E se acabou no chão feito um pacote
tímido
Agonizou no meio do passeio
náufrago
Morreu na contramão atrapalhando
o público

Amou daquela vez como se fosse
máquina
Beijou sua mulher como se fosse
lógico
Ergueu no patamar quatro paredes
flácidas
Sentou pra descansar como se fosse
um pássaro
E flutuou no ar como se fosse
um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote
bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando
o sábado