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terça-feira, março 04, 2003
 
Vó Niela

Filha de Rafael Espósito, de Palermo e da napolitana Luiza Puglia, D’Aniela Maria Sofia Espósito de Oliveira nasceu no dia seis de fevereiro de 1913.

Casou-se com vô Antônio, Seu Filhinho, e morou toda sua vida em Barra do Piraí.

Mãe de cinco, avó de onze.

Já estava bem doente, de cama, no hospital. Não conseguia mais distinguir quem era da família e quem não era, quem era conhecido e quem não. Dizia ‘eu te amo’ para quem cruzasse a porta e entrasse em seu quarto.

Dona Aniela, ou vó Niela, detestava ser chamada de D’Aniela. Nunca soube porquê.

Tenho algumas fotos brincando com minha prima Christine no jardim de sua casa. Tinha um velocípede e um carrinho de mão de plástico, azul. O da Christine era vermelho. Em uma das fotografias eu carrego uma pedra.

Numa outra eu estou no colo da minha vó. Ela me chamava de fiico.

Usava anágua.

Nunca vi um coral tão bonito nem um hino tão bonito. Ela estava coberta de margaridas brancas e um véu branco de tule.

Meu pai chorava do meu lado esquerdo, Christine segurava meu braço direito e chorava no meu ombro. Cada um ali chorava suas próprias recordações e ressentimentos.

Eu chorei o dia em que tomava banho e quis pregar uma peça na minha vó. Chamei-a, e quando ela se aproximou eu espirrei uma ducha de chuveirinho em seu rosto. Italiana, ainda que nascida no Brasil, fora gerada na Itália, ela saiu pela casa com as mãos cobrindo o rosto e exclamando alto: ‘Ah, mas que maldade! Mas que maldade!’...

foi engraçado!

Chorei também a certeza de saber que ela viverá por algum tempo enquanto relembrarmos histórias suas, como essa do chuveirinho. Haverá um momento em que seu nome será apenas um referencial genealógico perdido para sempre no tempo e no espaço.

Antes de deixar a capela e fumar um cigarro, toquei as suas mãos pela última vez.

Por trás de uma nuvem o sol se dividia em raios perfeitos. Tive a estranha certeza de que ela estava por ali e que eu estava mais próximo dela do que qualquer outra pessoa poderia estar naquele momento.

Aos 90 anos, dia primeiro de março de 2003 às oito horas da noite ela parou de respirar.

Aos 10 anos ela foi trabalhar numa fábrica de veludo. Como era muito pequenininha, puseram-na em um banquinho para que pudesse alcançar as máquinas e fazer suas fitas.

D’Aniela Maria Sofia Espósito de Oliveira nasceu no dia seis de fevereiro de 1913, filha de Rafael Espósito, de Palermo e da napolitana Luiza Puglia.

Ela era linda.

Minha vó.

Vó Niela