. : Desconstruindo Leco : .

desde janeiro de 2002 desconstruindo Piscinaum de Ramos construindo Desconstruindo Leco construindo pensamentos desconstruindo idéias construindo um blog desconstruindo o tempo

segunda-feira, setembro 29, 2003
 
.: Folias em um domingo :.

O Grupo Folias é, sem medo de errar, o meu favorito na cena paulistana. Trabalhos como o envolvente musical Single Singers Bar e o ótimo, e não menos envolvente Babilônia são referências muito pessoais enquanto pessoa e ator.


Em primeiro plano, Ailton Graça (Otelo) e Renata Zhaneta (Desdêmona)

Desta vez o excelente Grupo Folias traz Otelo, de William Shakespeare.

Os figurinos, a cenografia, a tradução de Maria Sílvia Betti e a sempre brilhante direção musical de Dagoberto Feliz, aliadas à direção precisa de Marco Antonio Rodrigues nos traz uma interessante leitura contemporânea desta que é uma das maiores tragédias do bardo.

O espetáculo, com arquibancadas móveis, utilização total e coerente do espaço físico, e um elenco de primeira, dialoga constantemente com a atualidade, e faz com que o espectador vá e volte no tempo, lançando assim, uma interessante reflexão sobre amor, obsessão e, principalmente, violência.

No melhor estilo do Teatro Épico proposto no meio do século passado, sempre que a platéia se envolve demais com a ação, é convidada a se distanciar, o que acontece geralmente através do texto e de inserções musicais contemporâneas.

Shakespeare e Brecht ficariam orgulhosos.

Imperdível.

Otelo, de William Shakespeare.
Direção de Marco Antonio Rodrigues.
Com o Grupo Folias D?Arte: Ailton Graça, Renata Zhaneta, Francisco Bretas, Atílio Beline Vaz, Bruno Perillo, Carlos Francisco, Dagoberto Feliz, Flávio Tolezani, Juliana Balsalobre, Nani de Oliveira, Paulo Bordhin, Rogério Romera e Val Pires.
Galpão do Folias
Rua Ana Cintra, 213, Santa Cecília, São Paulo, SP.
Tel. 0++/11/3361-2223
5ª e 6ª às 20h
sábado, às 21h
domingo, às 19h
R$ 20
estudante paga meia

* dica *
Se você não reservar seus ingressos e chegar com antecedência, corre o imperdoável risco de ficar de fora. Vale dar uma ligadinha antes.

* bônus *

"Otelo"
Ato I
Cena I

Iago - Pois meu amigo, fique certo de que se eu o sirvo é para meu próprio proveito. Nem todos podem ser patrões, e nem todos os patrões podem ser servidos de verdade. Você há de conhecer muito serviçal submisso, obcecado com sua própria vassalagem, consumindo a vida como um asno que serve ao dono a troco de sustento, e é dispensado quando fica velho. Chicote no lombo desses honestos serviçais! Outros assumem por fora uma postura de obediência e respeito, enquanto secretamente tiram vantagem própria no que podem, e fingindo servir aos amos, prosperam, e quando estão com os bolsos cheios, é a si próprios que prestam reverências. Estes indivíduos têm lá seu espírito, e eu próprio sou um deles. Pois meu caro, tão certo como seu nome é Rodrigo, se eu fosse o Mouro não haveria de querer um homem como Iago por perto. Servindo a ele eu sirvo é a mim mesmo. O céu é meu juiz, e não eu próprio, embora as aparências digam o contrário. Pois quando minhas ações revelarem minha natureza verdadeira, não passará muito tempo e eu estarei abrindo ao mundo meu próprio coração para que ele seja comido pelos urubus. Não sou o que pareço.

ps ainda vivo Iago no teatro. aguarde...